sábado, 13 de novembro de 2010

VENCIMENTO DOS GESTORES

 Os portugueses (os que têm trabalho), recebem cerca de menos 55% do que se ganha na zona euro. Mas os gestores do nosso país recebem, em média, mais 32% que os americanos, mais 22,5% que os franceses, mais 55 % que os finlandeses e mais 56,5% que os suecos (dados estes divulgados no final do ano de 2009).

O valor, por si só, é bastante atractivo: 810 891 euros. Foi este o salário médio que cada administrador executivo, considerando dez das maiores empresas portuguesas cotadas em bolsa, ganhou ao longo de 2008. Um rendimento 136 vezes superior, ao de um individuo que tenha auferido o salário mínimo, em vigor, durante o mesmo ano. De forma a conseguir um rendimento igual ao que qualquer um desses gestores aufere num ano, um português que ganhe um salário estimado em torno dos mil euros mensais, teria que ter duas vidas.

O vencimento chorudo do gestor em Portugal, não é um problema apenas dos dias de hoje, mas adquiriu maiores proporções, devido à crise e à injecção de dinheiro por parte do Estado nas empresas.

Mas como é possível, que um número desmedido de gestores tenham conseguido alcançar tais patamares de rendimento? Quanto a mim, a resposta passa pelo facto de serem “Super-Homens” com super poderes acima da maioria dos mortais, pelo menos no que concerne aos vencimentos.

Aplicando esta realidade à nossa dimensão, nos Açores, também existem alguns destes senhores com super poderes, senhores estes que têm a capacidade de exercer 3, 4 ou 5 actividades ao mesmo tempo, recebendo em termos médios cerca de 3.000 euros, por cada um destes serviços. Se os ditos “Super-Homens” tivessem de prestar 8 horas efectivas por cada serviço, como fazem os trabalhadores comuns, os seus dias teriam de ter entre 40 a 48 horas, de forma a poderem usufruir do tempo necessário para descansar diariamente. Mas, pelo menos vão de férias, ganham 14 meses de vencimento e têm direito a despesas de representação nos 14 meses, porque mesmo durante as férias aquelas mentes não tem descanso.

Uns com muito, outros com tão pouco. Será egoísmo? Muito provavelmente, pois, enquanto esses supostos “heróis” tem 3, 4 ou 5 fontes de rendimento, as filas das Agências de Qualificação e Emprego da Região vão aumentando, sendo o número de licenciados desempregados (sobretudo jovens licenciados) cada vez mais elevado.

A solução é óbvia, passa apenas por se apostar nas pessoas normais, com os tais 3000 euros, em vez de se ter alguém que vai aparecendo, contratar duas pessoas, com motivação e ambição de demonstrarem o seu valor, com novos conhecimentos que querem por em prática e acima de tudo, pessoas que estarão no serviço a tempo inteiro e de corpo e alma.

Em algumas empresas da região, uma chefia intermédia ganha 10 vezes mais do que o trabalhador normal. Isto significa que, o chefe de secção ganha mais do que todos os restantes trabalhadores, sendo que em muitos dos casos, se a chefia ficar em casa o trabalho faz-se na mesma, mas se os trabalhadores faltarem, a secção não funciona.

Em contraste com as pequenas fortunas que ganham os gestores em Portugal, a verdade é que o grosso dos trabalhadores do país, tem baixos salários, estas condições incentivam e perpetuam a baixa escolaridade, o abandono escolar e a baixa qualificação. Como o perfil produtivo da nossa economia assenta na exploração de baixos salários, é inevitável que se recorra a trabalho pouco qualificado e de baixa escolaridade, incentivando assim o seu aparecimento.

Infelizmente, estamos perante um ciclo vicioso, pois quem não tem dinheiro não pode comprar, se não se compra não se produz, se não se produz aumenta o desemprego e se existe desemprego, existe cada vez mais trabalhadores sem dinheiro e cada vez mais patrões a aproveitarem-se da sua fragilidade para ameaça-los, impor a precariedade e horários absurdos, cortar os salários, entre muitas outras malfeitorias.
Como se pode verificar através dos vencimentos, não existe uma justa repartição da riqueza. Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e excluídos. O País não pode ser constituído apenas pelos “Super-Homens”, há que dar igualdade de oportunidades a todos os cidadãos.

     Vítor Silva
     Conselheiro nacional da CGTP/IN

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